sexta-feira, 27 de maio de 2016

Reportagem do Jornal em Foco- " Todo sonho deve ser sonhado."


“Todo o sonho deve ser sonhado”


Alex Guenther é um profissional das histórias em quadrinhos, nascido Alex Leonardo Guenther em Blumenau, Santa Catarina, em 16 de abril de 1978. Casado com Sheila Vital Guenther, é pai de Arthur Vital Guenther. No seu currículo, há histórias em quadrinhos e graphic novels sobre a história de Blumenau e região. Nesta entrevista, ele fala sobre seu processo de criação e de seu entusiasmo pelo trabalho artístico.

 

Há na tua família outros artistas que produzem histórias em quadrinhos?

Não, apenas eu segui esse caminho, apesar de muitos parentes seguirem a vertente do desenho ligado a área artística ou publicitária.

 

Quando começou teu interesse pelos quadrinhos e o que te levou a acreditar que esta poderia vir a se tornar a tua profissão?

Comecei a ler histórias em quadrinhos muito cedo, antes mesmo de ir para a escola. Meu interesse pela mistura de desenhos e a história, juntando ao seu colorido impactante, teve grande influência para que eu preferisse este tipo de arte. Após terminar a faculdade, tinha a pretensão há muito tempo de lançar uma história em quadrinhos. Quando lancei “O Desbravador, a Fundação da Colônia Blumenau” (2003), viabilizada através do Funcultural de Santa Catarina, teve uma enorme repercussão no estado. Naquela época, pouquíssimas pessoas estavam fazendo resgate histórico através dos quadrinhos. Percebi um nicho a ser desenvolvido e lancei muitas outras revistas depois. Fui me profissionalizando com o tempo, com a experiência adquirida em cada trabalho desenvolvido.

 

De onde vem a inspiração para a criação das tuas tramas e personagens? Há casos nos quais eles são personagens da história contemporânea de Blumenau e região?

A maioria dos personagens desenvolvidos são históricos, como Dr. Blumenau, Edith Gaertner, entre outros. Então, tive que me conter às suas personalidades, procurei seguir os relatos que li a respeito de cada um deles. Sempre que possível, utilizei sátiras, pois gosto de histórias bem humoradas. Entre vários roteiros que desenvolvi e ainda não criei para outras revistas, utilizo como referência estereótipos de filmes antigos de todos os gêneros.

 

A ideia de produzir a revistas próprias surgiu quando?

Desde a minha primeira revista, já tinha noção da dificuldade da produção de uma publicação independente. Todo o processo de comercialização e distribuição. Existiam na época e ainda hoje existem muitos entraves para todo esse processo. Decidi que histórias histórico-culturais poderiam ser mais facilmente apoiadas por leis de incentivo à cultura e mais facilmente distribuídas pelos colégios e prefeituras. Sendo assim, pesquisei o assunto e vi algumas oportunidades que surgiram através das leis. Desenvolvi trabalhos somente com esse foco por algum tempo.

 

Alguém te ajudou na formatação ou foi tudo criação própria?

Sempre realizei todo o processo sozinho. Desde a pesquisa até a montagem final para impressão. Em algumas revistas, contei com revisão histórica e ortográfica, sempre necessárias.

 

Como foi a reação dos primeiros patrocinadores que receberam tua visita em busca de apoio para publicar tuas criações?

Em 2001, comecei a desenvolver revistas em quadrinhos independentes com apoio privado, com inserções de material publicitário na revista. Foi assim com as três revistas “Catacomics”, desenvolvidas pelo primeiro coletivo de artistas catarinenses e nas duas revistas que tratam da “História da Cerveja”, as quais desenvolvi nos anos de 2014 e 2015. Muitos empresários viam com bons olhos a iniciativa, pela inovação e até mesmo pelo desconhecimento de uma nova mídia. Mas alguns viam com desconfiança, achando que talvez fosse qualquer coisa sem importância para ninguém. Como sempre, apareci muito na mídia por causa dos projetos anteriores, e isso sempre ajudou muito para a viabilização dos projetos seguintes: pela segurança passada pelo fato de o assunto ter uma comprovação prévia.

 

A produção de uma revista ou de uma série de revistas em quadrinhos demanda mão de obra especializada. Com quem pudesses ou ainda podes contar, neste processo de criação?

Sempre desenvolvi tudo sozinho. É uma área em que o conhecimento deve estar alinhando. São muitas disciplinas a serem empregadas – desenho, roteiro, enquadramento, arte final, colorização. Muitos amigos realizam o trabalho sozinho, porém quando possuem uma equipe o trabalho flui melhor em todas áreas. Em muitos casos, fiz parceira com o texto e roteiro, ficando encarregado apenas das ilustrações.

 

Quantas e quais são as revistas em quadrinhos produzidas por ti, e de que temas elas tratam?

“O Desbravador, a fundação da colônia Blumenau” (2003) fala sobre a origem da colônia de Blumenau. “Vale dos Imigrantes” (2004) trata sobre a colonização do Vale do Itajaí pelos italianos. “Conhecendo o Museu da Família Colonial” (2004) trata sobre a vida de Edith Gaertner, sobrinha neta do Dr. Blumenau que viveu na casa onde hoje é o Museu de Blumenau. “Oktoberfest, Origens e Tradições” (2006) trata sobre a origem das Oktoberfest de Munique e Blumenau e tradições germânicas dos clubes de caça e tiro. “Apae 45 anos: do sonho à realidade” (2010) foi produzida para a Apae de Blumenau, contando tudo sobre seus 45 anos de história.

“Os Xokleng” (2010) narrada graficamente como uma novela, apresenta a história com personagens variados, contando vários trechos importantes sobre a população indígena de Santa Catarina. “Catacomics, quadrinhos independentes”, coletânea de histórias desenvolvida sempre por seis artistas da região, teve três revistas desenvolvidas de 2011 a 2012.

“Jóias para o Führer” (2012), em parceira com o escritor Fernando Henrique Becker e Silva, narra em uma novela gráfica a lenda dos túneis secretos que passam pelo centro de Blumenau, ambientada na época do nazismo. “A história da cerveja no mundo e em Blumenau” (2012, viabilizada em 2014) conta as origens da cerveja no mundo e sobre os primeiros cervejeiros blumenauenses, pioneiros nacionais. “A saborosa empreitada da cerveja pelo mundo” (2014) trata sobre o mercado atual cervejeiro, mostrando o advento das cervejarias artesanais e sobre processos de fabricação e estilos de cerveja.

 

Qual o significado e a importância destas produções para o artista Alex?

Todas as histórias têm sua importância. Não somente para mim, como artista, que aprendi e evoluí com cada uma delas, seja na pesquisa mais apurada, num roteiro mais específico ou num desenho melhor acabado – como também para a sociedade, que se beneficia de um trabalho voltado para a educação e para o resgate cultural das tradições da nossa região.

 

Fizeste incursões pela história de Blumenau e região através dos quadrinhos. Como foi esta experiência? Há outros projetos sendo preparados nesta linha?

É sempre muito rica e proveitosa a experiência de trabalhar com quadrinhos históricos. Através de sua produção, se conhece a fundo a história de seus antepassados e fundadores, e todas as dificuldades que eles passaram. Vez ou outra, sou cogitado para produção de quadrinhos nessa área por outros profissionais dos setores cultural e histórico. No momento, estou para começar uma nova revista sobre a população indígena de uma cidade de Santa Catarina.

 

Há escritor que escreve todos os dias, há pintor que pinta todos os dias... Mas, e o Alex, também produz todos os dias? Como é a tua "rotina" (se é que existe uma na tua vida de autor / criador / editor) quando o assunto é produção de quadrinhos?

Já houve tempo em que eu conseguia desenhar 3 horas por dia, o que é fundamental para se ter um traço solto e bem acabado. Mas as diversas obrigações me fazem desenhar mais aos finais de semana e nas horas vagas. Quando tenho um projeto a desenvolver, aí sim é preciso focar no design de personagens e desenhá-los constantemente afim de fazê-los até de olhos fechados!

 

O que tens a dizer a um(a) artista principiante na tua área de atuação que esteja lendo esta entrevista? Valem os esforços? Vale o sonho?

Todo o sonho deve ser sonhado. Se acredita e gosta do que se faz, vale a pena investir num sonho!

 

Do universo das histórias em quadrinhos, quais os artistas que mais te agradam ou que eventualmente tenham te inspirado nas tuas produções?

Tem um artista em especial da qual gosto muito, o nome dele é Scott Campbel, que mistura quadrinhos com desenho animado em seu layout. Tenho muita admiração pelo traçado de suas obras, ricas e envolventes. Brasileiros, gosto muito do Ed Bennes, Ed Barrows e Danilo Beiruth que fazem enorme sucesso mundo afora.




 
Reportagem veiculada dia 27/05/2016